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continuarA Mariazinha é a primeira cacique mulher do Brasil. A geração dela traz o pioneirismo do feminino na nação yawanawa e abre passagem para a revolução do gênero nas sete aldeias do Rio Gregório, município de Tarauacá, primeira terra indígena demarcada do Acre. Nossa ida pra lá, no ano passado, fez com que nos tornássemos próximas – admiradoras incansáveis desse povo - e criássemos uma parceria que ganhou forma em Rauti. No início dessa semana, nos encontramos no Rio de Janeiro, e não demorou muito para eu perceber que a tradição e o desejo do legado era o que ia costurando essa conversa que durou uma tarde inteira, mas poderia ter durado mais. Aqui, recortes desse momento incansável. Da mãe, que também era costureira, a Mariazinha herdou o gosto pela indumentária. Embora o pai, vindo de uma família de lideranças indígenas e progenitor de 17 filhos – sendo 14 mulheres – também fosse cacique, a cacicagem não é hereditária, por isso, quando se tornou a primeira cacique mulher do país, quando tinha apenas 25 anos, isso representou um marco de empoderamento feminino para o seu povo: “Não tinha mulheres em liderança. Só homens. Só os homens tomavam o uni (ayahuasca), por exemplo. Isso dividiu um povo inteiro. E agora, temos a primeira mulher a entrar na faculdade, a primeira mulher a tomar o uni, a primeira mulher a fazer a dieta forte e a se tornar pajé”, conta. Para ela, Shaneihu, (Deus), nos deu florestas potentes que abrigam absolutamente tudo o que precisamos para existir com plenitude – da vida à morte dos ciclos. E tudo o que encontramos durante o caminho é providencialmente divino: “Acreditamos que tudo o que vem pra nós vem com a força do Shaneihu. Vem com a sabedoria dele, com a proteção dele, com o cuidado dele e vem com a direção dele. Se algo der errado, sabemos que não foi permitido por ele. As nossas histórias, o nosso curar, o nosso conhecer está no divino. Como aprendemos a fazer cada cocar? Pela sabedoria do divino. Não aprendemos em nenhuma escola. Veio do coração. Do meu pai. Do pai do meu pai. Quando levamos nossos desenhos pra vocês, levamos a força e a sabedoria desse conhecimento. Não é um artista plástico. É a força daquela dieta de um ano sem tomar água, doce, carne, sexo!”. Ao falar do sagrado, Mariazinha emenda uma fala na língua nativa, e rapidamente corrige a conversa, traduzindo-a para o português; impossível não imaginar a força da tradição e da ancestralidade ocupando tacitamente nosso espaço. A dieta, na ocasião, é o caminho xamânico da purificação, uma iniciação espiritual extremamente rigorosa que até dez anos atrás só havia sido realizada por pouquíssimos homens. Consiste em ficar um ano dentro da floresta, sem contato com familiares, e com hábitos e alimentação restritos – sem água, sem doce, sem carne, sem relação sexual. Rucharlo, uma das irmãs mais novas da Mariazinha ousou romper status quo quando realizou a dieta forte e se tornou a primeira pajé mulher yawanawa; foi aí, nesse período, que ela teve a visão de seus já consagrados desenhos. Parte deles dará vida a peças da próxima edição da parceira, que serão lançadas no verão 18. Estar frente a frente com a Mariazinha e não pensar nessa força de mulher com sabedoria ancestral é praticamente impossível. Ela é a responsável por inaugurar uma nova forma de se relacionar entre seu próprio povo, que elucida o feminino para além do simbólico dentro de uma sociedade patriarcal. A Kenewma, sua filha única, hoje com 29 anos e a mais jovem mulher a ter completado a iniciação, também estava presente na conversa e disse que foi depois da liderança da mãe que tantas outras mulheres se sentiram capazes de deslocar as hierarquias. Descobri que é comum que as mulheres yawanawa tenham muitos filhos e a nossa cacique, mãe de uma, transbordou o instituto maternal “que ficou carente ” com a idealização de um projeto dos sonhos: a escola tradicional Yawanawa. A chegada do nawa (homem branco) é recente. Esse contato, que não tem 200 anos trouxe também os missionários, os seringueiros... e o aniquilamento de parte da tradição indígena, como a língua. A espiritualidade é a responsável por segurar a ponte entre esses dois universos, por resgatar e manter a essência e a cultura nativa, e é a responsável por despertar níveis de entendimento até então ocultos: “Não irei a lugar nenhum desse mundo enquanto jovens da aldeia não estiverem aprendendo a falar nossa língua nativa. Tive a visão da minha missão durante a dieta. Foi aí que surgiu a ideia da escola tradicional, que meu pai já sonhava. Juntei 16 crianças de 7 a 13 anos, numa casinha pequena, durante um mês, e só falávamos a língua tradicional. Eles têm que aprender como o passarinho canta, o que ele quer dizer... A Aldeia precisa de cuidado e isso precisa começar pelas crianças. Foi quase um internato indígena”, contou rindo. A verdade é que todo mundo se sente um pouco criança do lado dela. Aprendendo mundos e com vontade de colo. Ao ouvi-la falar, minha curiosidade inicial pela grandeza do sagrado foi abrindo espaço para um desejo genuíno de só vê-la, ainda que em silêncio, meditando entre uma resposta ou outra; o que, aliás, não acontece muito: Mariazinha é ponta de lança - dentro de uma calma aparente, ela pesca histórias pontuais e usa no momento certo. Nessas horas, tudo acontece. Uma dessas manifestações foi quando ela se lembrava da forte relação afetiva que tinha com o pai, falecido no ano passado, e uma folhinha seca lhe caiu sobre as mãos. A folha, vinda de uma das árvores que nos fazia sombra, rodopiou sobre a cabeça dela até alcança-la – como se forças da natureza ganhassem a legitimidade divina para se encontrarem de repente. Acariciando a folhinha nas mãos, ela me olhou e rimos em silêncio. Entendi mais de Deus ali. "A vida da população indígena não está por igualdade. O índio tem que lutar. Gosto que as pessoas que ajudam o índio lembrem-se da data de hoje porque, na verdade, para na nós, dia do índio é quando a gente consegue alcançar o nosso objetivo. É o dia de todas as populações indígenas. Não é fácil hoje lembrar o dia do índio. Na aldeia, a gente faz uma grande cerimônia pedindo a força do nosso poder espiritual, do poder espiritual dos que já se foram. A luta do yawanawa continua. A gente nunca perde, desde quando sentimos que temos direito à igualdade. Quando estou envelhecendo, mas tenho minha filha que dá continuidade, e ela já tem o filho dela... Isso é a luta!" Mariazinha, assim como ela mesma descreve o amor, “é uma vida acontecendo dentro de nós mesmas”. Só agradeci.
>19.04.18
Nem museu e nem galeria, nem uma instituição e nem um lar, quase isso tudo ao mesmo tempo, mas ainda além, o auroras é um espaço de arte independente, onde a arte mais do que ocupar ou se exibir, habita confortavelmente e se sente em casa. Assim como Ricardo Kugelmas, que depois de dez anos como art advisor em NY, voltou a São Paulo pra compartilhar com a gente o belo casarão modernista de sua família, num projeto generoso e apaixonado. Apadrinhado por ninguém menos que Tunga, o auroras abriu as portas no ano passado ao público apaixonado não só por arte, mas por todo o processo artístico. De lá pra cá, as salas por onde Ricardo correu na infância já foram preenchidas pelas pinturas de Alex Katz e David Salle, pelas esculturas de Lydia Okumura, por uma coletiva que reuniu pequenas obras de artistas como Ana Elisa Egreja, Luiz Zerbini, Jac Leirner e Janaina Tschäpe, entre outras atividades criativas definidas com a ajuda de um senhor conselho consultivo, recheado por nomes como Antonio Dias, Lenora de Barros e Charles Cosac. Conversamos um pouco com Ricardo pra saber um pouco mais sobre esse espaço, que estala de boas ideias e intenções: Quais suas primeiras memórias da casa? A casa, construída em 1957 e projetada pelo arquiteto Gian Carlo Gasperini, foi onde minha mãe e tia (Lenny Niemeyer) cresceram, então ela vem carregada de memórias muito antes de meu nascimento. As primeiras lembranças que tenho da casa são dos almoços que lá aconteciam todos os domingos, uma tradição herdada pela Lenny. Lembro de me jogar do segundo andar da biblioteca e cair deitado em um sofá de couro (que está lá até hoje). Só de pensar em uma criança fazendo isso hoje em dia, fico de cabelo em pé. Como é compartilhar um lugar que guarda tantas memórias afetivas, familiares e pessoais? É uma experiência muito especial. Apesar da casa estar praticamente sem móveis, existe uma energia incrível no lugar. Fico feliz em ver a casa viva e ser o guardião do espaço. O que diferencia auroras de uma galeria de arte tradicional? O auroras não é uma galeria, é um espaço de arte independente. O auroras não representa e não representará quaisquer artistas, assim como não participa de feiras de arte. O espaço existe pra fazer projetos com artistas. Numa cidade de 20 milhões de habitantes, devem existir muitos espaços de arte que não sejam galerias ou instituições. Acredito nisso e estou fazendo a minha parte. O que te fez se apaixonar por arte? A casa dos meus avós (onde hoje funciona o auroras) era recheada de arte sacra e pinturas modernistas brasileiras, e esse ambiente sempre me fascinou. Quando tinha uns 8 anos, meus amigos só queriam jogar Banco Imobiliário, mas eu só queria jogar Leilão de Arte, onde os jogadores compravam e vendiam obras de arte, e curiosamente todas as obras são do acervo do Masp. Em 2006, o artista italiano Francesco Clemente me convidou para dirigir seu ateliê em NY, e foi aí que comecei a me dedicar integralmente a minha grande paixão. O que te trouxe de volta ao Brasil? O Tunga foi o grande responsável por meu retorno ao Brasil. Um grande amigo e mentor, ficou anos me incentivando a voltar ao Brasil e começar um espaço de projetos onde eu pudesse compartilhar um pouco da experiência que tive trabalhando por 9 anos com um grande artista em NY. O que torna a arte brasileira única, o que a faz diferente do que é criado no resto do mundo? Aprendi com o Tunga que arte não tem nacionalidade. Arte é arte, independente do lugar onde ela é produzida. Pessoalmente admiro muito os artistas cuja produção não "entrega" sua nacionalidade. A quantidade de ótimos artistas que temos no Brasil é impressionante. O que te empolga no mercado de arte atual? O mercado não me empolga. O que me empolga é a importância da arte e dos artistas na construção de um futuro melhor. Como são criadas as exposições da casa? Quando criei o espaço, convidei uma série de artistas e algumas pessoas ligadas a cultura pra formarem o conselho consultivo do auroras, e junto com este conselho debatemos a programação do espaço. Qual seu espaço preferido na Auroras? A biblioteca, que tambem era o espaço preferido de meu avô. Curiosamente, a biblioteca é um "puxadinho" construído em 1972, ano em que minha mãe se casou com meu pai justamente nessa casa. Até Agosto, quando reabre com uma nova exposição, a casa segue aberta à visitação sob agendamento, onde é possível, além de conhecer o espaço, passar um tempo na biblioteca, que reúne uma coleção impressionante de livros de arte - e entender porque ela é o cantinho preferido do neto e do avô. Promessa absoluta de novas inspirações e memórias, agora também acessíveis a nós!
>05.07.17
“Saber doer antes de saber doar.” “O amor é TUDO isso mesmo!” Você já cruzou com uma dessas frases pelas ruas do rio? Escondidas em delicados azulejos escritos à mão e espalhados pela cidade, as frases da jornalista Fernanda Moreira andam aquecendo o coração de quem esbarra com elas. Os nossos inclusive. Por isso fomos atrás da moça (aqui na mesa ao lado, risos, porque a Fê é redatora-chefe do Adoro e a gente morre de orgulho) pra saber como ela criou o projeto @ladrilha e de onde ela tira inspiração. Foto: RIOetc Fernanda tem 29 anos e estudou jornalismo, mas quase fez letras. As palavras sempre foram suas amigas (um dos ladrilhos avisa: “ Poesia é casa”), e ela conta que escreve intuitivamente desde os 16 anos. Conversando com a Fê a gente entende por que ela produz tanto: parece que a cabeça da moça já funciona num estado permanente de poesia. Essa saiu no meio da entrevista: “A poesia me permeia. Me consola. Me cura. Me ajuda. Me falta. Me castiga, por vezes. E é minha companheira, às vezes distante, às vezes inseparável. Desde que a conheci, cá estamos.” Foto: RIOetc A gente também queria saber como surgiu a ideia de passar os textos do papel pros azulejos, e ela contou que estava andando à tarde com o namorado por Santa Teresa quando mencionou que queria dar um jeito de levar mais afeto pras ruas, e ele respondeu que uma vez tinha colado um adesivo do bonde num azulejo e pregado num muro. Nessa hora a Fê teve o estalo: “vou escrever meus textos em ladrilhos!” Fazia todo sentido, ainda mais com o histórico colonial da cidade. É um trabalho duplo de ocupação por afeto: da cidade e dela mesma. “A política tá no amor, em me trazer de dentro pra fora. A ocupação, na verdade, é minha mesmo.” Foto: @ladrilha No início a Fê pinçava as frases de seus poemas, agora já está criando coisas específicas pro Ladrilha. As frases são escolhidas ou escritas intuitivamente, de acordo com o momento e o que ela deseja comunicar. Um perrengue inicial que ela teve que superar foi o fato de não curtir a própria letra, mas no fim das contas ela percebeu que algo tão pessoal não poderia ser concretizado de outro jeito. Além disso, em tempos de teclados e touchscreens, que delícia que é conhecer a letra de alguém, né? Fotos: @ladrilha Mas e como é essa coisa de parir um trabalho e depois “ abandonar” ele na rua? Será que não dá uma aflição? Perguntamos pra Fê se ela tinha histórias interessantes pra compartilhar sobre essa interação do público com a sua arte. “Dia desses, recebi um direct carinhosíssimo de um rapaz que topou com um ladrilho em Botafogo, o "Saber doer antes de Saber Doar", e estava super grato pelo bem que a mensagem tinha feito naquele momento da vida dele. Recebo várias imagens compartilhadas no Instagram, pessoas que me marcam, que começam a me seguir elogiando o projeto. Certa vez, estava colando na São Salvador, que estava cheia, e rolou uma interação muito legal com a galera que estava em volta. Mas também rola muito ladrilho arrancado, e tudo bem. Ainda é curioso passar por um muro ocupado por mim, observar as pessoas fotografando ou lendo, e é engraçado passar e ver que o ladrilho não está mais lá. A rua é viva e esse é o barato!” Foto: @ladrilha A Fê também contou que gosta muito da sensação de trazer o afeto poético e o feminino pra rua, que infelizmente ainda é um ambiente muito machista e hostil. Aproveitamos pra finalizar perguntando se ela curtia trabalhos de outras minas que fazem arte de rua, e ela indicou a grafiteira Di Couto, e o Coletivo Transverso. Arte e afeto de sobra nas ruas do Rio
>02.06.17
A gente tá amando muito a nova arara jeans, recheada de peças que fogem do óbvio E foi pra entender um pouquinho mais de todo o processo criativo dessa coleção que conversamos com a Isadora Gallas, figurinista e stylist super antenada e parceira nossa que participou da concepção desse e de outros projetos lindos. Vem ver que é inspiração pura, ó! - Isa, conta um pouquinho pra gente da sua trajetória profissional? Eu me graduei em moda em Fortaleza, mas antes disso, ainda adolescente, trabalhei com teatro e figurino em Brasília, quando morei lá. Vim pra São Paulo com vinte e poucos anos e trabalhei como assistente do Paulo Martinez e da Letícia Toniazzo, depois fui trabalhar no grupo Chez, com o Seba Orth e a Karina Mota. Lá tive a oportunidade de desenvolver várias coisas relacionadas a moda não muito usuais. Conheci a Céu durante esse período e acabei fazendo o figurino dela durante o processo do disco Vagarosa. Depois disso comecei a trabalhar muito mais com figurino de música e tive a sorte de trabalhar com vários artistas que admiro muito: Anelis Assumpção, Serena, Marina Lima, Luiza Maita, Tiê, Lira, Juliana R... um monte de gente interessante! - E como surgiu essa parceria com a FARM? A FARM procurou a Céu pra uma coleção em parceria, entrei no projeto quando ele já estava em andamento e editamos juntos. Uma equipe muito talentosa, com Diego Cattani, Lane Marinho e todo mundo da FARM, todos muito envolvidos. - Como foi o processo de criação da coleção de jeans? Quais métodos vocês utilizaram, qual a ideia por trás? A FARM queria fazer uma coleção só de jeans, me chamaram pra pensar junto e chegamos numa ideia simples: um jeans leve , em 3 lavagens clássicas, a bruta, a média e a clara. Trabalhamos muito com lastéx e com poucos aviamentos, recriamos clássicos da FARM em jeans e produzimos peças inusitadas pro tecido, como canga e kimono. Desenvolvemos também um patchwork que simula um piso de taco, muito comum nas casas brasileiras. A coleção ficou muito leve e com cara de conforto. Optamos por fotografar num apartamento por isso. - Além dessa parceria, você já tinha feito outros projetos com a FARM, né? Sim! Fizemos o glitch tropical, um mini projeto de uniforme pra casa FARM, e estamos com mais 2 projetos em andamento! - Quais são seus projetos futuros? Estou fazendo direção de arte e figurino do disco novo da Anelis Assumpção, que está sendo muito, muito empolgante. Continuo trabalhando bastante com música, mas vou fazer mais teatro esse ano. Tenho projetos com a artista Rita Wainer e Julia Debasse e várias outras coisas, inclusive da FARM, que tô doida pra falar mas ainda não posso. Quem mais já tá supercurioso com o que está por vir? Só temos uma certeza: vai ser lindo! Obrigada Isa pela entrevista, e vida longa aos seus projetos inspiradores!
>27.05.17
Foi na faculdade de gastronomia, cursada na Universidade Estácio, no Rio de Janeiro, que Nathalie Passos encontrou a sua vocação: cozinhar. Que ela gostava de comer, já sabia. Desde novinha, Nathalie cultiva o prazer da mesa em casa, onde sua mãe sempre surpreendia com alguma delícia - ela também havia feito gastronomia. Além disso, Nathalie adorava conhecer restaurantes novos, experimentar comidas diferentes e descobrir novos sabores. A curiosidade era o seu ponto de partida. E foi essa mesma curiosidade que levou Nathalie a questionar várias coisas que rolavam no ambiente da cozinha, ainda dentro da faculdade. Quem são os fornecedores? De onde vem esses alimentos? De onde vem, pra onde vai? A busca por respostas levou Nathalie a estudar por conta própria e a se jogar numa aventura: a especialização nos Estados Unidos. "Morei 1 ano e meio em Nova Iorque, estudando no Natural Gourmet Institute. Logo fiquei encantada por tudo o que a cidade oferecia - eram muitas feiras de produtos orgânicos, com inclusive produtos de beleza. Conheci um produtor e fui trabalhar na sua fazenda, na Califórnia. Ele era vegano e eu amava poder trabalhar diretamente com a natureza, colhendo diariamente alimentos superfrescos e cozinhando", contou Nathalie. Mas tudo mudou com um telefonema. Seu pai, no Brasil, tinha descoberto que a casinha dos sonhos de Nathalie - um pequeno e confortável espaço em Botafogo, no Rio de Janeiro - estava à venda. Era a oportunidade ideal: "Conseguimos um bom preço na casa e não pensei duas vezes: larguei tudo e voltei pro Brasil, pronta pra abrir o meu primeiro restaurante". E foi assim, quase que por acidente, que o Naturalie Bistrô nasceu. Ainda bem. Sorte a nossa! O restaurante foi reformado pela família, que literalmente botou a mão na massa e trabalhou nos mínimos detalhes. "As pessoas perguntam se a gente contratou arquiteto, decorador, mas não. Foi tudo feito por nós mesmos!". E basta visitar o restaurante pra entender: na parede, utensílios de cozinha pessoais de Nathalie, assim como seus livros favoritos, enfeitam o restaurante. Tudo arrumado com muito carinho, com um quê de casa de vó. E é justamente assim que a gente se sente por lá: em casa! E a comida ajuda muito a criar essa atmosfera. Esquece aquela ideia que comida natural não tem sabor. Pelo contrário: tem, e muito! Mais do que isso, no Naturalie Bistrô o sabor é imperativo. Se não for bom, nem entra no cardápio. "Não é porque é um restaurante vegetariano e saudável que não pode ser saboroso. A gente não trabalha com refinados, farinha branca, enlatados e corantes, mas abusamos de temperinhos e de tudo que a natureza dá pra trazer muito sabor pros pratos." Que sabor! O cardápio é rotativo e varia de acordo com os ingredientes da estação, que chegam diariamente na cozinha, fresquinhos e recém-comprados na feira orgânica. Depois disso, durante a criação dos pratos, o processo se dá de uma maneira muito colaborativa e conta com a participação de todos os funcionários. "Todos sentamos e provamos os pratos, e as sugestões são sempre levadas em conta. É quase que um espaço de coworking dentro da cozinha!" Essa união da equipe também ajuda a explicar o brilho nos olhos dos funcionários, coisa fácil de perceber por lá. Todos atendem com um sorriso no rosto e felizes em ajudar, sempre com informações superdetalhadas sobre os pratos. "Meu objetivo é ter um restaurante humano. Pra isso, trabalho com a compreensão, a liberdade e a troca, constante, entre mim e os funcionários", contou Nathalie. Lindo, né? E o mais incrível: Nathalie vem fazendo esse trabalho incrível no auge dos seus 24 anos. Uma inspiração e tanto pra quem tá começando na cozinha, né? Ela faz questão de acompanhar de perto tudo o que rola no Naturalie e tá sempre por lá, se alternando entre a cozinha, a administração e a opinião dos clientes. "As vezes uma coisinha que o cliente disse pode virar um novo prato ou uma alteração no que já existe. É importante saber ouvir", finalizou. Parece que eles estão sabendo ouvir direitinho, não só o que os clientes dizem, mas também o que sentem. Né?
>23.05.17
Foto: Mariana Maciel Imagina só percorrer três estados brasileiros no mar, conduzindo um kitesurf e sendo guiado apenas pela força das ondas e a direção dos ventos: demais, né? Essa foi a aventura na qual os participantes do documentário "Surfin sem fim" se jogaram, acompanhados por uma equipe super especial, pela jovem diretora e roteirista Bruna Toledo e pela sua produtora, Vídeo com alma. A gente bateu um papo com ela e garantimos: é inspiração pura! Vem ver Foto: Mathias Lessmann - Bruna, você é super engajada em questões ambientais. Conta um pouquinho da sua relação com a natureza pra gente? A minha relação com a natureza é simplesmente a certeza que ela é a base de tudo. É a fonte de vida. De matéria prima, cores, sabores, essências, texturas. É o que faz ser possível existirmos nesse mundo. Quando tomei consciência disso, minha vida mudou muito, porque me fez repensar toda minha forma de interagir com o meu entorno. A forma como eu me alimento, a forma como eu consumo, de quem eu consumo e consequentemente com quem eu me relaciono. E é impossível não se preocupar com as questões do mundo nesse momento, fechar os olhos pro aquecimento global e diversos outros problemas que estamos enfrentando. Uma das idéias é ter um braço da produtora que foque cada vez mais em projetos socioambientais, usando o poder do vídeo para engajar e conectar indivíduos. - Você também curte esportes? Quais os seus favoritos? Os esportes sempre foram parte de mim. Quando criança, minha trupe era uma amiga e uma turma de 10 meninos, e a gente jogava futebol, handebol, queimada, taco, andava de patins, atravessava a cidade de bicicleta. Chegava em casa tarde da noite, minha mãe assoviava na janela quando era a hora de subir. E eu sempre chegava cheia de roxos e marcas nas pernas. Lembro a primeira vez que uma amiga começou a usar salto e eu não entendi. Foi muito estranho. Não entendia a hora de “virar mulher”. Curtia muito ser criança-menino-moleque. E comecei a aprontar mais ainda depois dos 28, dei 7 pontos na cabeça num atropelamento de skate, quebrei o pé, enfim. Pra mim é fundamental estar em movimento. Me dá um gás extra que se estende em todos os âmbitos da vida. Seja yoga, corrida. Mas o que mais gosto de praticar são os esportes com prancha. Brinco no surf - mas não sou boa, definitivamente, amo o skate e recentemente fui inserida no mundo do kitesurf e amei! Olhando de longe parece algo impossível, mas é um dos esportes mais fáceis e democráticos que já conheci e dá uma sensação de liberdade transformadora. Fotos: Mariana Maciel - E a sua formação profissional? Vi que você já trabalhou como estilista, com marketing de moda... Afinal, como você chegou até aqui? Pois é, vivi 10 anos no mundo da moda, alternando entre estilo e marketing. A Paula Ferber, a pessoa que mais amei ter como chefe, sempre me dizia que eu também tinha jeito pra uma outra coisa, que não era ser estilista. E eu não entendia isso, me sentia até um pouco chateada porque, afinal, fiz moda pra ser estilista, né? Não. Ela me pedia pra acompanhar as fotos com o fotógrafo, cuidar da próxima campanha, tratar com a assessoria de imprensa. E eu sempre com minha câmera na mão. Demorou exatos 5 anos pra eu entender o que ela queria dizer. Depois de uma temporada morando fora com minha GoPro na mão e sabendo o básico do Finalcut (editor de vídeos), comecei a montar pequenos vídeos pra registrar os momentos do cotidiano das minhas viagens. Na primeira vez que sentei pra editar um vídeo, fiquei até as 6 da manhã pregada no computador, completamente apaixonada com o que estava sendo criado ali. A partir daquele dia decidi comprar uma câmera melhor e comecei a topar fazer vídeos como trabalho, com um ex namorado que trabalhava com isso. As pessoas começaram a acreditar em mim quando nem eu mesma acreditava. Ainda trabalhando com moda, eu passava noites em claro editando os trabalhos de vídeo. Fui criando portfolio e foram acreditando mais e mais em mim. E aí pesou minha paixão por viagens, minha vontade de ser livre, que nasceu com a experiência fora do Brasil, e a certeza que um trabalho das 8h às 18h já não me satisfazia mais. Assim tomei minha decisão e mergulhei fundo no mundo audiovisual. - Qual a ideia por trás da Vídeo com Alma? Me questionei muito, por muito tempo, como o meu trabalho poderia gerar um impacto positivo no mundo. Encontrei no vídeo a ferramenta que me permite transbordar sentimentos e compartilhar histórias, envolver, conectar e inspirar, principalmente. A Vídeo Com Alma nasceu do desejo de fazer trabalhos que se conectem com os meus propósitos, com o que acredito profundamente. É impressionante o que nasce de um trabalho com amor e a ampla rede que, inevitavelmente, se cria e segue conectando pessoas com os mesmos sentimentos e vontades. - O que é o "Surfin sem fim", afinal? O "Surfin sem fim" é uma expedição de kitesurfe que acontece no nordeste do Brasil. Movidos pelo vento com um kite na mão e uma prancha no pé, esse grupo de aventureiros cruzam 3 estados do Brasil (Ceará, Piauí e Maranhão) num downwind (uma modalidade do kitesurfe) cheio de surpresas, explorando e acessando lugares incríveis que não é possível chegar de carro, apenas pelo mar. - E como surgiu essa idéia? A idéia do "Surfin sem fim", que na verdade é uma expedição aberta a qualquer pessoa que queira participar, é do Marco Dalpozzo, um italiano apaixonado pelo Brasil e pelo kitesurfe, que aqui chegou há aproximadamente 15 anos se encantou com a beleza exuberante dos lugares, com a constância do vento no nordeste e principalmente com a simplicidade das pessoas. O nordeste é a Meca do kitesurfe no mundo. E essas condições tornam perfeitas e possíveis travessias de km e km. Isso é fascinante: poder usar uma pipa como um meio de transporte limpo, atravessar estados sem precisar entrar num carro. O combustível é o vento e os companheiros, seres humanos movidos pela mesma vontade de descobrir e descobrir-se. Quando conheci o projeto, também me apaixonei. E fui convidada por ele para fazer disso um documentário que pudesse inspirar, repleto de poesia, outras pessoas a conhecerem essa aventura. - Como foi a experiência de produzí-lo? A experiência foi incrível e intensa. Existiam dificuldades logísticas, uma vez que o grupo percorria de 65 a 150 km pelo mar num único dia. Então tínhamos uma equipe que acompanhava pelo mar, com jetski, e um carro na areia, com o restante da equipe. Mas o Brasil tem uma costa diversa e desafiadora , e muitas vezes nos deparávamos com mangues, dunas, entradas de rio, usinas eólicas. Então tínhamos que fazer tudo de uma forma muito bem planejada e alinhada com os velejadores, pois em alguns momentos precisávamos pegar uma estrada por alguns km, balsas e entrar novamente em outro trecho para continuar acompanhando esses aventureiros. Mas trabalhar em meio à natureza, recebendo como presente cada dia um pôr e nascer do sol mais lindo que o outro, trabalhando com pessoas que têm a mesma motivação que você, que prezam pela liberdade, pela contemplação da natureza, pela poesia envolvida em tudo aquilo, é algo que me faz dormir com um sorriso no rosto todos os dias. - Como rolou a seleção dos seis participantes desse aventura? Os participantes foram surgindo de uma forma bem orgânica. O Marco, criador do "Surfin sem fim" e também personagem, é super conectado com a comunidade do kite e muitos já eram parceiros como a Marcela Witt, o Guilly Brandão, o André Penna. O Bowen foi um presente, um americano que veio ao Brasil no ano anterior e logo já entrou pra família, e o André Cintra é um super ser humano, conhecemos sua história através da Jalila Paulino, que cuidou de toda a produção do projeto, e ele também topou na hora. - Vocês passaram por algumas dificuldades durante as filmagens? Sem dificuldade, não tem aventura! Acampamos um dia em cabanas de pescadores no meio do Delta do Parnaíba, no Maranhão, um pedaço de areia envolvido por braços infinitos de rios, dunas, mangues. Como não podíamos carregar muito peso e tivemos que ir até lá de barco, levamos pouca estrutura de camping, então posso dizer que essa foi uma noite mais dura. Eu mesma dormi num saco de dormir estendido num chão de madeira, com vários buracos. Alguns em redes, outros em barracas. Vento forte e constante a noite inteira. Mas a memória que guardo é apenas de um céu impressionante e a imagem daquele momento, com toda a equipe em volta da fogueira, assando um peixe com os pescadores e falando sobre a vida. - Quais as suas expectativas com esse projeto? Isso é, como você pretende tocar as pessoas com ele? Todas as pessoas envolvidas nesse documentário, da produção aos personagens, têm algo em comum: todas elas acreditam que o esporte - de uma forma geral mas especificamente o kite - é capaz de transformar nossas vidas. Lidar com nossos maiores medos e com as forças da natureza te coloca num lugar de respeito ao todo, ao entendimento de que realmente somos pequenos seres tentando se aventurar numa imensidão. Isso é muito lindo. Nos trás humildade, consciência corporal, respeito ao próximo, ao seu parceiro de jornada ou ao pescador que cruza o olhar com o seu por milésimos de segundo em alto mar. Posso dizer que o documentário é um convite às pessoas a olharem para si e pensarem: afinal, o que te inspira? Acreditamos que precisamos nos dar mais o direito de viver, de ir além, desafiar nossos limites. O esporte tem esse poder, de transformar nossas vidas, de dar aquele gás, aquele estímulo a mais que tanto precisamos no nosso cotidiano. É como uma passagem do Bowen no documentário, onde ele diz: “Comece com o ' sim'. Quando dizemos não às oportunidades da vida, estamos apenas fechando portas.” - E já tem algum próximo projeto em mente? Conta pra gente, vai! :P Estou embarcando pra Austrália ainda esse mês pra dirigir um projeto lindo com a Marcela Witt e o Nelson Pinto, pra Colabora Filmes. É uma aventura pelo lado mais selvagem da Austrália, onde vamos rodar 10 mil km de carro, e também vai ser gravado pro Canal OFF. Vai ser lindo! Curtiu? Então anota aí na agenda: o documentário estreia no dia 06 de junho no Canal OFF! Quem mais já tá na contagem regressiva pra acompanhar essa aventura? o/
>18.05.17
Eu acho que nunca, nunquinha, conheci alguém que não gostasse de música. E ainda bem, né? Porque, não sei como funciona com vocês, mas música pra mim é tipo combustível. Eu preciso conhecer mais, ouvir mais, ouvir sempre. E, toda vez que eu chego em algum lugar novo, procuro logo saber mais sobre sua música. A música tem um poder incrível de unir pessoas legais e, talvez por Maceió ser uma grande cidade pequena, quem circula pelos eventos da cena musical daqui acaba conhecendo com facilidade quem faz parte disso tudo. Foi assim, circulando, que eu acabei conhecendo as três bandas que tão nesse post: Yo SoyToño, Morfina e Quiçaça. Ah! E elas estão na playlist Sotaques no Spotify, viu? Vem ouvir! YoSoyToño é o projeto solo de Antônio Oiticica, que nasceu no Rio mas tem alma alagoana, já que vive por aqui desde criança. Com um som mais indie/folk (bem diferente do estilo da Dof Láfá, banda da qual ele também é vocalista), YoSoyToño é sua versão mais minimalista e subjetiva. Sempre tranquilo e com um violão embaixo do braço, quando Toño toca nos convida a entrar “Na Sala” (nome da série que ele lançou em 2015, depois de uma temporada em São Paulo) e ficar de boa! Formada pelos amigos Igor Peixoto e Reuel Albuquerque, a banda Morfina nasceu em 2015. Com forte influência do rock dos anos setenta, muitos samples eletrônicos e uma pegada lo-fi super bem feita, a banda - que tem seu nome inspirado na também alagoana Mopho, uma das maiores influências do duo - gravou seu primeiro álbum, Farta Evanescente, todo em casa. Já a Quiçaça adicionou, com o seu “reggae rural”, o tempero do Agreste alagoano na nossa roda de prosa. Começando pelo nome, que vem de um tipo de vegetação tradicional do Sertão e do Agreste e que significa ‘mato rasteiro e espinhento; terra seca e estéril, de vegetação arbustiva, rala e baixa’, a Quiçaça traz, também no ritmo e nas letras, o DNA da sua terra, Arapiraca. Um presente bom pros ouvidos, a banda, que tem Ruan Melo, Rodrigo Cruz, Gleyson Matheus e Janu Leite juntos, canta uma realidade bem diferente, mesmo estando aqui do nosso lado (a 128 Km de Maceió). De Novos Baianos a Beatles, Mamonas Assassinas a Chiquititas, passando por Alceu Valença e chegando ao unânime Los Hermanos, todos cresceram cercados de estímulos musicais. Não foi à toa que, em algum momento da vida, escolheram entrar nesse mundo. Alagoas é um lugar cheio de coisas pra serem cantadas e fazer música por aqui é quase um ato de resistência (e persistência, com certeza). Como o estado é carente de leis de incentivo à cultura, muitas coisas só acontecem na base do “faça você mesmo”. Na verdade, dá pra dizer que a cena por aqui não é nem independente e, sim, interdependente, já que as bandas (e quem as compõem) precisam uma das outras pra fazer as coisas acontecerem. “O que eu acho legal do faça-você-mesmo é que ele gera um campo plural pela liberdade que ele te permite. Você pode fazer um lance cheio de identidade, com a sua cara e que vai atender a um grupo específico de pessoas. A gente consegue atingir um nicho, a gente tá formando um público e isso é interessante. O faça-você-mesmo também permite que você se envolva em todas as etapas. Você tem que ser o seu próprio assessor, produtor, motorista, o cara que faz a gravação, o cara que passa o som...”, diz Toño, que também está à frente da Muquifo, produtora que traz bandas independentes de todo o Brasil pra Maceió. Janu acha que existe uma linha muito tênue que separa o lado bom e ruim dessa realidade. “Concordo com o Toño quando ele diz que fazer parte de todo o processo é algo bom, mas também acho que muitas vezes a gente poderia aproveitar mais isso, sabe? Tornar isso uma troca maior e não uma competição, como rola às vezes. Tipo, um cara que sabe gravar ensina pra um que não sabe; um que tem experiência em produzir troca com outro que nunca produziu e por aí vai.” Além da realidade do faça você mesmo, aqui em Maceió as bandas e os produtores ainda contam com um fator imprevisível: o público. É muito doido como em uma cidade que é tão carente de eventos, de certa forma, ainda tem gente que reclama da falta de coisas pra fazer e mesmo assim não é capaz de sair de casa pra conhecer ou conferir algum evento com artistas locais. Em Arapiraca, os meninos falaram que a coisa é diferente: por ser uma cidade com menos eventos, quando acontece alguma coisa todo mundo vai. Ainda bem! Como em muitos outros lugares, uma super aliada da cena daqui é a internet. É por meio dela que a galera mostra o trabalho pra outros cantos do Brasil e do mundo. “A gente também tem que pensar que podemos ser maiores do que somos por aqui e jogar nosso trabalho na internet é uma forma de atingir outras pessoas minimamente. Seja por sair na lista de bons discos em algum site especializado, seja por aparecer na playlist da Farm; isso já é algo que faz o trabalho valer à pena!”, diz Igor. Alagoas é berço musical de músicos incríveis: a gente tem Hermeto Pascoal, gênio e um dos principais nomes da chamada “universal music”, tem Wado e Mopho (as bandas alagoanas que tão no topo da lista dos nossos entrevistados), tem Djavan e mais um monte de gente massa que precisa aparecer e ser lembrado. E no cenário independente, acredito que é a primeira vez em anos que a gente tem bandas muito boas e bem produzidas - de todos os estilos - fazendo nome por aqui e aparecendo em outros estados do Brasil. Só isso já serve de combustível pra que tudo continue acontecendo, seguindo nesse caminho. Afinal, inspiração pra criar é o que não falta por aqui. Ruan, vocalista da Quiçaça, mora na zona rural de Arapiraca e é de lá que sai a maioria das letras da banda. “É esse tipo de coisa que forma poeticamente a banda. A gente vai observando os personagens da cidade, ouvindo o que eles têm a dizer. Muitas letras são baseadas na linguagem dos comerciantes que vão passando de carroça, de cavalo. Às vezes é um vocabulário que nem a gente consegue identificar, aí surge meio que um trabalho de pesquisa mesmo, de procurar entender de onde vêm as expressões, o que elas querem dizer.”, conta. Já Toño diz que “em Maceió, às vezes a gente vive muito na superfície, se acomoda naquela superficialidade, fala do que tá mais perto, do que tá sempre ali. Acho que a gente tem que aproveitar a riqueza e as diferenças da cidade e se permitir mergulhar”. E o sotaque, gente? “O nosso sotaque diz quem a gente é, de onde a gente vem. É o nosso natural. Não adianta forçar falar de um jeito diferente na hora de fazer música porque acaba ficando artificial”, fala Reuel. E é isso mesmo, né? Vale lembrar: nesse fim de semana o Toño toca com a Dof Lafá no Festival Mormaço, e a Quiçaça se apresenta no evento Um Pelo Outro #2. Não dá pra perder, né? *Agradecimentos especiais ao querido Duda Bertho pelas fotos desse dia cheio de sorrisos.
>17.05.17
A parceria da FARM com a Bento Store é um assunto que acelera o nosso coração. Tanto que fomos perguntar ao Carlos Ferreirinha, sócio da Bento, se do lado de lá a sensação é recíproca, e aproveitamos também pra conhecer um pouquinho mais da marca Ficou curiosx? Então olha só - Ferreirinha, a gente ficou muito feliz com a parceria, mas queremos saber de você: curtiu? Então, curtir é pouco. Na verdade a parceria com a FARM nos emocionou, aqueceu a alma, abriu sorrisos! Amamos! - E qual a importância que você vê nisso? É muito bacana quando marcas apertam as mãos, encontram caminhos juntos, acreditam na complementariedade... Todo mundo ganha e ainda mais o cliente, no final. É força de diferenciação e competitividade! - Conta um pouco pra gente de como surgiu a Bento! A Bento Store vem da inquietação de dois caras amigos que, juntos, se permitiram ter vontade de criarem um novo negócio, absolutamente inovador, em todos os sentidos. Estudamos oportunidades de forma geral por quase dois anos e nesse tempo "esbarramos" em produtos para "take away", as marmitinhas cool, modernas... Decidimos então focar nisso, desenhar um projeto arrebatador e, acima de tudo, surpreender com um conceito jamais visto. - Qual os maiores diferenciais da Bento pra outras marmitas convencionais? São muitos: modelos, cores, design, tecnologia. Tem modernidade tecnológica pra poderem ser colocadas no microondas, na lava-louças... Possuem também revestimento térmico, são sustentáveis e responsáveis com o meio ambiente, já que são BPA free. - Além de incentivar um estilo de vida mais saudável, a Bento tem toda uma preocupação com a causa ambiental também. Você pode contar um pouco mais disso pra gente? Essa é uma preocupação forte nossa. Os produtos não podem ou não deveriam ser apenas bonitos. Precisam ser responsáveis, gerar menos lixo, menos uso do papel e do plástico. Produtos que sejam livres de BPA, o bisfenol-A (prejudicial ao meio ambiente e a nossa própria saúde). - A gente quer saber: e você, no seu dia a dia, também é adepto das marmitas? Se não era, passei a ser! Já #soumarmiteiro ou melhor #vireimarmiteiro sim! :) - Fique a vontade pra contar o que mais quiser, tá? Uma coisa a mais... ter a FARM conosco foi a realização de um sonho! Admiração total pela marca! Inspiração! A gente não poderia ficar mais feliz com essa entrevista, né? Vida longa à Bento, vida longa à FARM!
>15.05.17
A Mariazinha é a primeira cacique mulher do Brasil. A geração dela traz o pioneirismo do feminino na nação yawanawa e abre passagem para a revolução do gênero nas sete aldeias do Rio Gregório, município de Tarauacá, primeira terra indígena demarcada do Acre. Nossa ida pra lá, no ano passado, fez com que nos tornássemos próximas – admiradoras incansáveis desse povo - e criássemos uma parceria que ganhou forma em Rauti. No início dessa semana, nos encontramos no Rio de Janeiro, e não demorou muito para eu perceber que a tradição e o desejo do legado era o que ia costurando essa conversa que durou uma tarde inteira, mas poderia ter durado mais. Aqui, recortes desse momento incansável. Da mãe, que também era costureira, a Mariazinha herdou o gosto pela indumentária. Embora o pai, vindo de uma família de lideranças indígenas e progenitor de 17 filhos – sendo 14 mulheres – também fosse cacique, a cacicagem não é hereditária, por isso, quando se tornou a primeira cacique mulher do país, quando tinha apenas 25 anos, isso representou um marco de empoderamento feminino para o seu povo: “Não tinha mulheres em liderança. Só homens. Só os homens tomavam o uni (ayahuasca), por exemplo. Isso dividiu um povo inteiro. E agora, temos a primeira mulher a entrar na faculdade, a primeira mulher a tomar o uni, a primeira mulher a fazer a dieta forte e a se tornar pajé”, conta. Para ela, Shaneihu, (Deus), nos deu florestas potentes que abrigam absolutamente tudo o que precisamos para existir com plenitude – da vida à morte dos ciclos. E tudo o que encontramos durante o caminho é providencialmente divino: “Acreditamos que tudo o que vem pra nós vem com a força do Shaneihu. Vem com a sabedoria dele, com a proteção dele, com o cuidado dele e vem com a direção dele. Se algo der errado, sabemos que não foi permitido por ele. As nossas histórias, o nosso curar, o nosso conhecer está no divino. Como aprendemos a fazer cada cocar? Pela sabedoria do divino. Não aprendemos em nenhuma escola. Veio do coração. Do meu pai. Do pai do meu pai. Quando levamos nossos desenhos pra vocês, levamos a força e a sabedoria desse conhecimento. Não é um artista plástico. É a força daquela dieta de um ano sem tomar água, doce, carne, sexo!”. Ao falar do sagrado, Mariazinha emenda uma fala na língua nativa, e rapidamente corrige a conversa, traduzindo-a para o português; impossível não imaginar a força da tradição e da ancestralidade ocupando tacitamente nosso espaço. A dieta, na ocasião, é o caminho xamânico da purificação, uma iniciação espiritual extremamente rigorosa que até dez anos atrás só havia sido realizada por pouquíssimos homens. Consiste em ficar um ano dentro da floresta, sem contato com familiares, e com hábitos e alimentação restritos – sem água, sem doce, sem carne, sem relação sexual. Rucharlo, uma das irmãs mais novas da Mariazinha ousou romper status quo quando realizou a dieta forte e se tornou a primeira pajé mulher yawanawa; foi aí, nesse período, que ela teve a visão de seus já consagrados desenhos. Parte deles dará vida a peças da próxima edição da parceira, que serão lançadas no verão 18. Estar frente a frente com a Mariazinha e não pensar nessa força de mulher com sabedoria ancestral é praticamente impossível. Ela é a responsável por inaugurar uma nova forma de se relacionar entre seu próprio povo, que elucida o feminino para além do simbólico dentro de uma sociedade patriarcal. A Kenewma, sua filha única, hoje com 29 anos e a mais jovem mulher a ter completado a iniciação, também estava presente na conversa e disse que foi depois da liderança da mãe que tantas outras mulheres se sentiram capazes de deslocar as hierarquias. Descobri que é comum que as mulheres yawanawa tenham muitos filhos e a nossa cacique, mãe de uma, transbordou o instituto maternal “que ficou carente ” com a idealização de um projeto dos sonhos: a escola tradicional Yawanawa. A chegada do nawa (homem branco) é recente. Esse contato, que não tem 200 anos trouxe também os missionários, os seringueiros... e o aniquilamento de parte da tradição indígena, como a língua. A espiritualidade é a responsável por segurar a ponte entre esses dois universos, por resgatar e manter a essência e a cultura nativa, e é a responsável por despertar níveis de entendimento até então ocultos: “Não irei a lugar nenhum desse mundo enquanto jovens da aldeia não estiverem aprendendo a falar nossa língua nativa. Tive a visão da minha missão durante a dieta. Foi aí que surgiu a ideia da escola tradicional, que meu pai já sonhava. Juntei 16 crianças de 7 a 13 anos, numa casinha pequena, durante um mês, e só falávamos a língua tradicional. Eles têm que aprender como o passarinho canta, o que ele quer dizer... A Aldeia precisa de cuidado e isso precisa começar pelas crianças. Foi quase um internato indígena”, contou rindo. A verdade é que todo mundo se sente um pouco criança do lado dela. Aprendendo mundos e com vontade de colo. Ao ouvi-la falar, minha curiosidade inicial pela grandeza do sagrado foi abrindo espaço para um desejo genuíno de só vê-la, ainda que em silêncio, meditando entre uma resposta ou outra; o que, aliás, não acontece muito: Mariazinha é ponta de lança - dentro de uma calma aparente, ela pesca histórias pontuais e usa no momento certo. Nessas horas, tudo acontece. Uma dessas manifestações foi quando ela se lembrava da forte relação afetiva que tinha com o pai, falecido no ano passado, e uma folhinha seca lhe caiu sobre as mãos. A folha, vinda de uma das árvores que nos fazia sombra, rodopiou sobre a cabeça dela até alcança-la – como se forças da natureza ganhassem a legitimidade divina para se encontrarem de repente. Acariciando a folhinha nas mãos, ela me olhou e rimos em silêncio. Entendi mais de Deus ali. "A vida da população indígena não está por igualdade. O índio tem que lutar. Gosto que as pessoas que ajudam o índio lembrem-se da data de hoje porque, na verdade, para na nós, dia do índio é quando a gente consegue alcançar o nosso objetivo. É o dia de todas as populações indígenas. Não é fácil hoje lembrar o dia do índio. Na aldeia, a gente faz uma grande cerimônia pedindo a força do nosso poder espiritual, do poder espiritual dos que já se foram. A luta do yawanawa continua. A gente nunca perde, desde quando sentimos que temos direito à igualdade. Quando estou envelhecendo, mas tenho minha filha que dá continuidade, e ela já tem o filho dela... Isso é a luta!" Mariazinha, assim como ela mesma descreve o amor, “é uma vida acontecendo dentro de nós mesmas”. Só agradeci.
>19.04.18
Nem museu e nem galeria, nem uma instituição e nem um lar, quase isso tudo ao mesmo tempo, mas ainda além, o auroras é um espaço de arte independente, onde a arte mais do que ocupar ou se exibir, habita confortavelmente e se sente em casa. Assim como Ricardo Kugelmas, que depois de dez anos como art advisor em NY, voltou a São Paulo pra compartilhar com a gente o belo casarão modernista de sua família, num projeto generoso e apaixonado. Apadrinhado por ninguém menos que Tunga, o auroras abriu as portas no ano passado ao público apaixonado não só por arte, mas por todo o processo artístico. De lá pra cá, as salas por onde Ricardo correu na infância já foram preenchidas pelas pinturas de Alex Katz e David Salle, pelas esculturas de Lydia Okumura, por uma coletiva que reuniu pequenas obras de artistas como Ana Elisa Egreja, Luiz Zerbini, Jac Leirner e Janaina Tschäpe, entre outras atividades criativas definidas com a ajuda de um senhor conselho consultivo, recheado por nomes como Antonio Dias, Lenora de Barros e Charles Cosac. Conversamos um pouco com Ricardo pra saber um pouco mais sobre esse espaço, que estala de boas ideias e intenções: Quais suas primeiras memórias da casa? A casa, construída em 1957 e projetada pelo arquiteto Gian Carlo Gasperini, foi onde minha mãe e tia (Lenny Niemeyer) cresceram, então ela vem carregada de memórias muito antes de meu nascimento. As primeiras lembranças que tenho da casa são dos almoços que lá aconteciam todos os domingos, uma tradição herdada pela Lenny. Lembro de me jogar do segundo andar da biblioteca e cair deitado em um sofá de couro (que está lá até hoje). Só de pensar em uma criança fazendo isso hoje em dia, fico de cabelo em pé. Como é compartilhar um lugar que guarda tantas memórias afetivas, familiares e pessoais? É uma experiência muito especial. Apesar da casa estar praticamente sem móveis, existe uma energia incrível no lugar. Fico feliz em ver a casa viva e ser o guardião do espaço. O que diferencia auroras de uma galeria de arte tradicional? O auroras não é uma galeria, é um espaço de arte independente. O auroras não representa e não representará quaisquer artistas, assim como não participa de feiras de arte. O espaço existe pra fazer projetos com artistas. Numa cidade de 20 milhões de habitantes, devem existir muitos espaços de arte que não sejam galerias ou instituições. Acredito nisso e estou fazendo a minha parte. O que te fez se apaixonar por arte? A casa dos meus avós (onde hoje funciona o auroras) era recheada de arte sacra e pinturas modernistas brasileiras, e esse ambiente sempre me fascinou. Quando tinha uns 8 anos, meus amigos só queriam jogar Banco Imobiliário, mas eu só queria jogar Leilão de Arte, onde os jogadores compravam e vendiam obras de arte, e curiosamente todas as obras são do acervo do Masp. Em 2006, o artista italiano Francesco Clemente me convidou para dirigir seu ateliê em NY, e foi aí que comecei a me dedicar integralmente a minha grande paixão. O que te trouxe de volta ao Brasil? O Tunga foi o grande responsável por meu retorno ao Brasil. Um grande amigo e mentor, ficou anos me incentivando a voltar ao Brasil e começar um espaço de projetos onde eu pudesse compartilhar um pouco da experiência que tive trabalhando por 9 anos com um grande artista em NY. O que torna a arte brasileira única, o que a faz diferente do que é criado no resto do mundo? Aprendi com o Tunga que arte não tem nacionalidade. Arte é arte, independente do lugar onde ela é produzida. Pessoalmente admiro muito os artistas cuja produção não "entrega" sua nacionalidade. A quantidade de ótimos artistas que temos no Brasil é impressionante. O que te empolga no mercado de arte atual? O mercado não me empolga. O que me empolga é a importância da arte e dos artistas na construção de um futuro melhor. Como são criadas as exposições da casa? Quando criei o espaço, convidei uma série de artistas e algumas pessoas ligadas a cultura pra formarem o conselho consultivo do auroras, e junto com este conselho debatemos a programação do espaço. Qual seu espaço preferido na Auroras? A biblioteca, que tambem era o espaço preferido de meu avô. Curiosamente, a biblioteca é um "puxadinho" construído em 1972, ano em que minha mãe se casou com meu pai justamente nessa casa. Até Agosto, quando reabre com uma nova exposição, a casa segue aberta à visitação sob agendamento, onde é possível, além de conhecer o espaço, passar um tempo na biblioteca, que reúne uma coleção impressionante de livros de arte - e entender porque ela é o cantinho preferido do neto e do avô. Promessa absoluta de novas inspirações e memórias, agora também acessíveis a nós!
>05.07.17
“Saber doer antes de saber doar.” “O amor é TUDO isso mesmo!” Você já cruzou com uma dessas frases pelas ruas do rio? Escondidas em delicados azulejos escritos à mão e espalhados pela cidade, as frases da jornalista Fernanda Moreira andam aquecendo o coração de quem esbarra com elas. Os nossos inclusive. Por isso fomos atrás da moça (aqui na mesa ao lado, risos, porque a Fê é redatora-chefe do Adoro e a gente morre de orgulho) pra saber como ela criou o projeto @ladrilha e de onde ela tira inspiração. Foto: RIOetc Fernanda tem 29 anos e estudou jornalismo, mas quase fez letras. As palavras sempre foram suas amigas (um dos ladrilhos avisa: “ Poesia é casa”), e ela conta que escreve intuitivamente desde os 16 anos. Conversando com a Fê a gente entende por que ela produz tanto: parece que a cabeça da moça já funciona num estado permanente de poesia. Essa saiu no meio da entrevista: “A poesia me permeia. Me consola. Me cura. Me ajuda. Me falta. Me castiga, por vezes. E é minha companheira, às vezes distante, às vezes inseparável. Desde que a conheci, cá estamos.” Foto: RIOetc A gente também queria saber como surgiu a ideia de passar os textos do papel pros azulejos, e ela contou que estava andando à tarde com o namorado por Santa Teresa quando mencionou que queria dar um jeito de levar mais afeto pras ruas, e ele respondeu que uma vez tinha colado um adesivo do bonde num azulejo e pregado num muro. Nessa hora a Fê teve o estalo: “vou escrever meus textos em ladrilhos!” Fazia todo sentido, ainda mais com o histórico colonial da cidade. É um trabalho duplo de ocupação por afeto: da cidade e dela mesma. “A política tá no amor, em me trazer de dentro pra fora. A ocupação, na verdade, é minha mesmo.” Foto: @ladrilha No início a Fê pinçava as frases de seus poemas, agora já está criando coisas específicas pro Ladrilha. As frases são escolhidas ou escritas intuitivamente, de acordo com o momento e o que ela deseja comunicar. Um perrengue inicial que ela teve que superar foi o fato de não curtir a própria letra, mas no fim das contas ela percebeu que algo tão pessoal não poderia ser concretizado de outro jeito. Além disso, em tempos de teclados e touchscreens, que delícia que é conhecer a letra de alguém, né? Fotos: @ladrilha Mas e como é essa coisa de parir um trabalho e depois “ abandonar” ele na rua? Será que não dá uma aflição? Perguntamos pra Fê se ela tinha histórias interessantes pra compartilhar sobre essa interação do público com a sua arte. “Dia desses, recebi um direct carinhosíssimo de um rapaz que topou com um ladrilho em Botafogo, o "Saber doer antes de Saber Doar", e estava super grato pelo bem que a mensagem tinha feito naquele momento da vida dele. Recebo várias imagens compartilhadas no Instagram, pessoas que me marcam, que começam a me seguir elogiando o projeto. Certa vez, estava colando na São Salvador, que estava cheia, e rolou uma interação muito legal com a galera que estava em volta. Mas também rola muito ladrilho arrancado, e tudo bem. Ainda é curioso passar por um muro ocupado por mim, observar as pessoas fotografando ou lendo, e é engraçado passar e ver que o ladrilho não está mais lá. A rua é viva e esse é o barato!” Foto: @ladrilha A Fê também contou que gosta muito da sensação de trazer o afeto poético e o feminino pra rua, que infelizmente ainda é um ambiente muito machista e hostil. Aproveitamos pra finalizar perguntando se ela curtia trabalhos de outras minas que fazem arte de rua, e ela indicou a grafiteira Di Couto, e o Coletivo Transverso. Arte e afeto de sobra nas ruas do Rio
>02.06.17
A gente tá amando muito a nova arara jeans, recheada de peças que fogem do óbvio E foi pra entender um pouquinho mais de todo o processo criativo dessa coleção que conversamos com a Isadora Gallas, figurinista e stylist super antenada e parceira nossa que participou da concepção desse e de outros projetos lindos. Vem ver que é inspiração pura, ó! - Isa, conta um pouquinho pra gente da sua trajetória profissional? Eu me graduei em moda em Fortaleza, mas antes disso, ainda adolescente, trabalhei com teatro e figurino em Brasília, quando morei lá. Vim pra São Paulo com vinte e poucos anos e trabalhei como assistente do Paulo Martinez e da Letícia Toniazzo, depois fui trabalhar no grupo Chez, com o Seba Orth e a Karina Mota. Lá tive a oportunidade de desenvolver várias coisas relacionadas a moda não muito usuais. Conheci a Céu durante esse período e acabei fazendo o figurino dela durante o processo do disco Vagarosa. Depois disso comecei a trabalhar muito mais com figurino de música e tive a sorte de trabalhar com vários artistas que admiro muito: Anelis Assumpção, Serena, Marina Lima, Luiza Maita, Tiê, Lira, Juliana R... um monte de gente interessante! - E como surgiu essa parceria com a FARM? A FARM procurou a Céu pra uma coleção em parceria, entrei no projeto quando ele já estava em andamento e editamos juntos. Uma equipe muito talentosa, com Diego Cattani, Lane Marinho e todo mundo da FARM, todos muito envolvidos. - Como foi o processo de criação da coleção de jeans? Quais métodos vocês utilizaram, qual a ideia por trás? A FARM queria fazer uma coleção só de jeans, me chamaram pra pensar junto e chegamos numa ideia simples: um jeans leve , em 3 lavagens clássicas, a bruta, a média e a clara. Trabalhamos muito com lastéx e com poucos aviamentos, recriamos clássicos da FARM em jeans e produzimos peças inusitadas pro tecido, como canga e kimono. Desenvolvemos também um patchwork que simula um piso de taco, muito comum nas casas brasileiras. A coleção ficou muito leve e com cara de conforto. Optamos por fotografar num apartamento por isso. - Além dessa parceria, você já tinha feito outros projetos com a FARM, né? Sim! Fizemos o glitch tropical, um mini projeto de uniforme pra casa FARM, e estamos com mais 2 projetos em andamento! - Quais são seus projetos futuros? Estou fazendo direção de arte e figurino do disco novo da Anelis Assumpção, que está sendo muito, muito empolgante. Continuo trabalhando bastante com música, mas vou fazer mais teatro esse ano. Tenho projetos com a artista Rita Wainer e Julia Debasse e várias outras coisas, inclusive da FARM, que tô doida pra falar mas ainda não posso. Quem mais já tá supercurioso com o que está por vir? Só temos uma certeza: vai ser lindo! Obrigada Isa pela entrevista, e vida longa aos seus projetos inspiradores!
>27.05.17
Foi na faculdade de gastronomia, cursada na Universidade Estácio, no Rio de Janeiro, que Nathalie Passos encontrou a sua vocação: cozinhar. Que ela gostava de comer, já sabia. Desde novinha, Nathalie cultiva o prazer da mesa em casa, onde sua mãe sempre surpreendia com alguma delícia - ela também havia feito gastronomia. Além disso, Nathalie adorava conhecer restaurantes novos, experimentar comidas diferentes e descobrir novos sabores. A curiosidade era o seu ponto de partida. E foi essa mesma curiosidade que levou Nathalie a questionar várias coisas que rolavam no ambiente da cozinha, ainda dentro da faculdade. Quem são os fornecedores? De onde vem esses alimentos? De onde vem, pra onde vai? A busca por respostas levou Nathalie a estudar por conta própria e a se jogar numa aventura: a especialização nos Estados Unidos. "Morei 1 ano e meio em Nova Iorque, estudando no Natural Gourmet Institute. Logo fiquei encantada por tudo o que a cidade oferecia - eram muitas feiras de produtos orgânicos, com inclusive produtos de beleza. Conheci um produtor e fui trabalhar na sua fazenda, na Califórnia. Ele era vegano e eu amava poder trabalhar diretamente com a natureza, colhendo diariamente alimentos superfrescos e cozinhando", contou Nathalie. Mas tudo mudou com um telefonema. Seu pai, no Brasil, tinha descoberto que a casinha dos sonhos de Nathalie - um pequeno e confortável espaço em Botafogo, no Rio de Janeiro - estava à venda. Era a oportunidade ideal: "Conseguimos um bom preço na casa e não pensei duas vezes: larguei tudo e voltei pro Brasil, pronta pra abrir o meu primeiro restaurante". E foi assim, quase que por acidente, que o Naturalie Bistrô nasceu. Ainda bem. Sorte a nossa! O restaurante foi reformado pela família, que literalmente botou a mão na massa e trabalhou nos mínimos detalhes. "As pessoas perguntam se a gente contratou arquiteto, decorador, mas não. Foi tudo feito por nós mesmos!". E basta visitar o restaurante pra entender: na parede, utensílios de cozinha pessoais de Nathalie, assim como seus livros favoritos, enfeitam o restaurante. Tudo arrumado com muito carinho, com um quê de casa de vó. E é justamente assim que a gente se sente por lá: em casa! E a comida ajuda muito a criar essa atmosfera. Esquece aquela ideia que comida natural não tem sabor. Pelo contrário: tem, e muito! Mais do que isso, no Naturalie Bistrô o sabor é imperativo. Se não for bom, nem entra no cardápio. "Não é porque é um restaurante vegetariano e saudável que não pode ser saboroso. A gente não trabalha com refinados, farinha branca, enlatados e corantes, mas abusamos de temperinhos e de tudo que a natureza dá pra trazer muito sabor pros pratos." Que sabor! O cardápio é rotativo e varia de acordo com os ingredientes da estação, que chegam diariamente na cozinha, fresquinhos e recém-comprados na feira orgânica. Depois disso, durante a criação dos pratos, o processo se dá de uma maneira muito colaborativa e conta com a participação de todos os funcionários. "Todos sentamos e provamos os pratos, e as sugestões são sempre levadas em conta. É quase que um espaço de coworking dentro da cozinha!" Essa união da equipe também ajuda a explicar o brilho nos olhos dos funcionários, coisa fácil de perceber por lá. Todos atendem com um sorriso no rosto e felizes em ajudar, sempre com informações superdetalhadas sobre os pratos. "Meu objetivo é ter um restaurante humano. Pra isso, trabalho com a compreensão, a liberdade e a troca, constante, entre mim e os funcionários", contou Nathalie. Lindo, né? E o mais incrível: Nathalie vem fazendo esse trabalho incrível no auge dos seus 24 anos. Uma inspiração e tanto pra quem tá começando na cozinha, né? Ela faz questão de acompanhar de perto tudo o que rola no Naturalie e tá sempre por lá, se alternando entre a cozinha, a administração e a opinião dos clientes. "As vezes uma coisinha que o cliente disse pode virar um novo prato ou uma alteração no que já existe. É importante saber ouvir", finalizou. Parece que eles estão sabendo ouvir direitinho, não só o que os clientes dizem, mas também o que sentem. Né?
>23.05.17
Foto: Mariana Maciel Imagina só percorrer três estados brasileiros no mar, conduzindo um kitesurf e sendo guiado apenas pela força das ondas e a direção dos ventos: demais, né? Essa foi a aventura na qual os participantes do documentário "Surfin sem fim" se jogaram, acompanhados por uma equipe super especial, pela jovem diretora e roteirista Bruna Toledo e pela sua produtora, Vídeo com alma. A gente bateu um papo com ela e garantimos: é inspiração pura! Vem ver Foto: Mathias Lessmann - Bruna, você é super engajada em questões ambientais. Conta um pouquinho da sua relação com a natureza pra gente? A minha relação com a natureza é simplesmente a certeza que ela é a base de tudo. É a fonte de vida. De matéria prima, cores, sabores, essências, texturas. É o que faz ser possível existirmos nesse mundo. Quando tomei consciência disso, minha vida mudou muito, porque me fez repensar toda minha forma de interagir com o meu entorno. A forma como eu me alimento, a forma como eu consumo, de quem eu consumo e consequentemente com quem eu me relaciono. E é impossível não se preocupar com as questões do mundo nesse momento, fechar os olhos pro aquecimento global e diversos outros problemas que estamos enfrentando. Uma das idéias é ter um braço da produtora que foque cada vez mais em projetos socioambientais, usando o poder do vídeo para engajar e conectar indivíduos. - Você também curte esportes? Quais os seus favoritos? Os esportes sempre foram parte de mim. Quando criança, minha trupe era uma amiga e uma turma de 10 meninos, e a gente jogava futebol, handebol, queimada, taco, andava de patins, atravessava a cidade de bicicleta. Chegava em casa tarde da noite, minha mãe assoviava na janela quando era a hora de subir. E eu sempre chegava cheia de roxos e marcas nas pernas. Lembro a primeira vez que uma amiga começou a usar salto e eu não entendi. Foi muito estranho. Não entendia a hora de “virar mulher”. Curtia muito ser criança-menino-moleque. E comecei a aprontar mais ainda depois dos 28, dei 7 pontos na cabeça num atropelamento de skate, quebrei o pé, enfim. Pra mim é fundamental estar em movimento. Me dá um gás extra que se estende em todos os âmbitos da vida. Seja yoga, corrida. Mas o que mais gosto de praticar são os esportes com prancha. Brinco no surf - mas não sou boa, definitivamente, amo o skate e recentemente fui inserida no mundo do kitesurf e amei! Olhando de longe parece algo impossível, mas é um dos esportes mais fáceis e democráticos que já conheci e dá uma sensação de liberdade transformadora. Fotos: Mariana Maciel - E a sua formação profissional? Vi que você já trabalhou como estilista, com marketing de moda... Afinal, como você chegou até aqui? Pois é, vivi 10 anos no mundo da moda, alternando entre estilo e marketing. A Paula Ferber, a pessoa que mais amei ter como chefe, sempre me dizia que eu também tinha jeito pra uma outra coisa, que não era ser estilista. E eu não entendia isso, me sentia até um pouco chateada porque, afinal, fiz moda pra ser estilista, né? Não. Ela me pedia pra acompanhar as fotos com o fotógrafo, cuidar da próxima campanha, tratar com a assessoria de imprensa. E eu sempre com minha câmera na mão. Demorou exatos 5 anos pra eu entender o que ela queria dizer. Depois de uma temporada morando fora com minha GoPro na mão e sabendo o básico do Finalcut (editor de vídeos), comecei a montar pequenos vídeos pra registrar os momentos do cotidiano das minhas viagens. Na primeira vez que sentei pra editar um vídeo, fiquei até as 6 da manhã pregada no computador, completamente apaixonada com o que estava sendo criado ali. A partir daquele dia decidi comprar uma câmera melhor e comecei a topar fazer vídeos como trabalho, com um ex namorado que trabalhava com isso. As pessoas começaram a acreditar em mim quando nem eu mesma acreditava. Ainda trabalhando com moda, eu passava noites em claro editando os trabalhos de vídeo. Fui criando portfolio e foram acreditando mais e mais em mim. E aí pesou minha paixão por viagens, minha vontade de ser livre, que nasceu com a experiência fora do Brasil, e a certeza que um trabalho das 8h às 18h já não me satisfazia mais. Assim tomei minha decisão e mergulhei fundo no mundo audiovisual. - Qual a ideia por trás da Vídeo com Alma? Me questionei muito, por muito tempo, como o meu trabalho poderia gerar um impacto positivo no mundo. Encontrei no vídeo a ferramenta que me permite transbordar sentimentos e compartilhar histórias, envolver, conectar e inspirar, principalmente. A Vídeo Com Alma nasceu do desejo de fazer trabalhos que se conectem com os meus propósitos, com o que acredito profundamente. É impressionante o que nasce de um trabalho com amor e a ampla rede que, inevitavelmente, se cria e segue conectando pessoas com os mesmos sentimentos e vontades. - O que é o "Surfin sem fim", afinal? O "Surfin sem fim" é uma expedição de kitesurfe que acontece no nordeste do Brasil. Movidos pelo vento com um kite na mão e uma prancha no pé, esse grupo de aventureiros cruzam 3 estados do Brasil (Ceará, Piauí e Maranhão) num downwind (uma modalidade do kitesurfe) cheio de surpresas, explorando e acessando lugares incríveis que não é possível chegar de carro, apenas pelo mar. - E como surgiu essa idéia? A idéia do "Surfin sem fim", que na verdade é uma expedição aberta a qualquer pessoa que queira participar, é do Marco Dalpozzo, um italiano apaixonado pelo Brasil e pelo kitesurfe, que aqui chegou há aproximadamente 15 anos se encantou com a beleza exuberante dos lugares, com a constância do vento no nordeste e principalmente com a simplicidade das pessoas. O nordeste é a Meca do kitesurfe no mundo. E essas condições tornam perfeitas e possíveis travessias de km e km. Isso é fascinante: poder usar uma pipa como um meio de transporte limpo, atravessar estados sem precisar entrar num carro. O combustível é o vento e os companheiros, seres humanos movidos pela mesma vontade de descobrir e descobrir-se. Quando conheci o projeto, também me apaixonei. E fui convidada por ele para fazer disso um documentário que pudesse inspirar, repleto de poesia, outras pessoas a conhecerem essa aventura. - Como foi a experiência de produzí-lo? A experiência foi incrível e intensa. Existiam dificuldades logísticas, uma vez que o grupo percorria de 65 a 150 km pelo mar num único dia. Então tínhamos uma equipe que acompanhava pelo mar, com jetski, e um carro na areia, com o restante da equipe. Mas o Brasil tem uma costa diversa e desafiadora , e muitas vezes nos deparávamos com mangues, dunas, entradas de rio, usinas eólicas. Então tínhamos que fazer tudo de uma forma muito bem planejada e alinhada com os velejadores, pois em alguns momentos precisávamos pegar uma estrada por alguns km, balsas e entrar novamente em outro trecho para continuar acompanhando esses aventureiros. Mas trabalhar em meio à natureza, recebendo como presente cada dia um pôr e nascer do sol mais lindo que o outro, trabalhando com pessoas que têm a mesma motivação que você, que prezam pela liberdade, pela contemplação da natureza, pela poesia envolvida em tudo aquilo, é algo que me faz dormir com um sorriso no rosto todos os dias. - Como rolou a seleção dos seis participantes desse aventura? Os participantes foram surgindo de uma forma bem orgânica. O Marco, criador do "Surfin sem fim" e também personagem, é super conectado com a comunidade do kite e muitos já eram parceiros como a Marcela Witt, o Guilly Brandão, o André Penna. O Bowen foi um presente, um americano que veio ao Brasil no ano anterior e logo já entrou pra família, e o André Cintra é um super ser humano, conhecemos sua história através da Jalila Paulino, que cuidou de toda a produção do projeto, e ele também topou na hora. - Vocês passaram por algumas dificuldades durante as filmagens? Sem dificuldade, não tem aventura! Acampamos um dia em cabanas de pescadores no meio do Delta do Parnaíba, no Maranhão, um pedaço de areia envolvido por braços infinitos de rios, dunas, mangues. Como não podíamos carregar muito peso e tivemos que ir até lá de barco, levamos pouca estrutura de camping, então posso dizer que essa foi uma noite mais dura. Eu mesma dormi num saco de dormir estendido num chão de madeira, com vários buracos. Alguns em redes, outros em barracas. Vento forte e constante a noite inteira. Mas a memória que guardo é apenas de um céu impressionante e a imagem daquele momento, com toda a equipe em volta da fogueira, assando um peixe com os pescadores e falando sobre a vida. - Quais as suas expectativas com esse projeto? Isso é, como você pretende tocar as pessoas com ele? Todas as pessoas envolvidas nesse documentário, da produção aos personagens, têm algo em comum: todas elas acreditam que o esporte - de uma forma geral mas especificamente o kite - é capaz de transformar nossas vidas. Lidar com nossos maiores medos e com as forças da natureza te coloca num lugar de respeito ao todo, ao entendimento de que realmente somos pequenos seres tentando se aventurar numa imensidão. Isso é muito lindo. Nos trás humildade, consciência corporal, respeito ao próximo, ao seu parceiro de jornada ou ao pescador que cruza o olhar com o seu por milésimos de segundo em alto mar. Posso dizer que o documentário é um convite às pessoas a olharem para si e pensarem: afinal, o que te inspira? Acreditamos que precisamos nos dar mais o direito de viver, de ir além, desafiar nossos limites. O esporte tem esse poder, de transformar nossas vidas, de dar aquele gás, aquele estímulo a mais que tanto precisamos no nosso cotidiano. É como uma passagem do Bowen no documentário, onde ele diz: “Comece com o ' sim'. Quando dizemos não às oportunidades da vida, estamos apenas fechando portas.” - E já tem algum próximo projeto em mente? Conta pra gente, vai! :P Estou embarcando pra Austrália ainda esse mês pra dirigir um projeto lindo com a Marcela Witt e o Nelson Pinto, pra Colabora Filmes. É uma aventura pelo lado mais selvagem da Austrália, onde vamos rodar 10 mil km de carro, e também vai ser gravado pro Canal OFF. Vai ser lindo! Curtiu? Então anota aí na agenda: o documentário estreia no dia 06 de junho no Canal OFF! Quem mais já tá na contagem regressiva pra acompanhar essa aventura? o/
>18.05.17
Eu acho que nunca, nunquinha, conheci alguém que não gostasse de música. E ainda bem, né? Porque, não sei como funciona com vocês, mas música pra mim é tipo combustível. Eu preciso conhecer mais, ouvir mais, ouvir sempre. E, toda vez que eu chego em algum lugar novo, procuro logo saber mais sobre sua música. A música tem um poder incrível de unir pessoas legais e, talvez por Maceió ser uma grande cidade pequena, quem circula pelos eventos da cena musical daqui acaba conhecendo com facilidade quem faz parte disso tudo. Foi assim, circulando, que eu acabei conhecendo as três bandas que tão nesse post: Yo SoyToño, Morfina e Quiçaça. Ah! E elas estão na playlist Sotaques no Spotify, viu? Vem ouvir! YoSoyToño é o projeto solo de Antônio Oiticica, que nasceu no Rio mas tem alma alagoana, já que vive por aqui desde criança. Com um som mais indie/folk (bem diferente do estilo da Dof Láfá, banda da qual ele também é vocalista), YoSoyToño é sua versão mais minimalista e subjetiva. Sempre tranquilo e com um violão embaixo do braço, quando Toño toca nos convida a entrar “Na Sala” (nome da série que ele lançou em 2015, depois de uma temporada em São Paulo) e ficar de boa! Formada pelos amigos Igor Peixoto e Reuel Albuquerque, a banda Morfina nasceu em 2015. Com forte influência do rock dos anos setenta, muitos samples eletrônicos e uma pegada lo-fi super bem feita, a banda - que tem seu nome inspirado na também alagoana Mopho, uma das maiores influências do duo - gravou seu primeiro álbum, Farta Evanescente, todo em casa. Já a Quiçaça adicionou, com o seu “reggae rural”, o tempero do Agreste alagoano na nossa roda de prosa. Começando pelo nome, que vem de um tipo de vegetação tradicional do Sertão e do Agreste e que significa ‘mato rasteiro e espinhento; terra seca e estéril, de vegetação arbustiva, rala e baixa’, a Quiçaça traz, também no ritmo e nas letras, o DNA da sua terra, Arapiraca. Um presente bom pros ouvidos, a banda, que tem Ruan Melo, Rodrigo Cruz, Gleyson Matheus e Janu Leite juntos, canta uma realidade bem diferente, mesmo estando aqui do nosso lado (a 128 Km de Maceió). De Novos Baianos a Beatles, Mamonas Assassinas a Chiquititas, passando por Alceu Valença e chegando ao unânime Los Hermanos, todos cresceram cercados de estímulos musicais. Não foi à toa que, em algum momento da vida, escolheram entrar nesse mundo. Alagoas é um lugar cheio de coisas pra serem cantadas e fazer música por aqui é quase um ato de resistência (e persistência, com certeza). Como o estado é carente de leis de incentivo à cultura, muitas coisas só acontecem na base do “faça você mesmo”. Na verdade, dá pra dizer que a cena por aqui não é nem independente e, sim, interdependente, já que as bandas (e quem as compõem) precisam uma das outras pra fazer as coisas acontecerem. “O que eu acho legal do faça-você-mesmo é que ele gera um campo plural pela liberdade que ele te permite. Você pode fazer um lance cheio de identidade, com a sua cara e que vai atender a um grupo específico de pessoas. A gente consegue atingir um nicho, a gente tá formando um público e isso é interessante. O faça-você-mesmo também permite que você se envolva em todas as etapas. Você tem que ser o seu próprio assessor, produtor, motorista, o cara que faz a gravação, o cara que passa o som...”, diz Toño, que também está à frente da Muquifo, produtora que traz bandas independentes de todo o Brasil pra Maceió. Janu acha que existe uma linha muito tênue que separa o lado bom e ruim dessa realidade. “Concordo com o Toño quando ele diz que fazer parte de todo o processo é algo bom, mas também acho que muitas vezes a gente poderia aproveitar mais isso, sabe? Tornar isso uma troca maior e não uma competição, como rola às vezes. Tipo, um cara que sabe gravar ensina pra um que não sabe; um que tem experiência em produzir troca com outro que nunca produziu e por aí vai.” Além da realidade do faça você mesmo, aqui em Maceió as bandas e os produtores ainda contam com um fator imprevisível: o público. É muito doido como em uma cidade que é tão carente de eventos, de certa forma, ainda tem gente que reclama da falta de coisas pra fazer e mesmo assim não é capaz de sair de casa pra conhecer ou conferir algum evento com artistas locais. Em Arapiraca, os meninos falaram que a coisa é diferente: por ser uma cidade com menos eventos, quando acontece alguma coisa todo mundo vai. Ainda bem! Como em muitos outros lugares, uma super aliada da cena daqui é a internet. É por meio dela que a galera mostra o trabalho pra outros cantos do Brasil e do mundo. “A gente também tem que pensar que podemos ser maiores do que somos por aqui e jogar nosso trabalho na internet é uma forma de atingir outras pessoas minimamente. Seja por sair na lista de bons discos em algum site especializado, seja por aparecer na playlist da Farm; isso já é algo que faz o trabalho valer à pena!”, diz Igor. Alagoas é berço musical de músicos incríveis: a gente tem Hermeto Pascoal, gênio e um dos principais nomes da chamada “universal music”, tem Wado e Mopho (as bandas alagoanas que tão no topo da lista dos nossos entrevistados), tem Djavan e mais um monte de gente massa que precisa aparecer e ser lembrado. E no cenário independente, acredito que é a primeira vez em anos que a gente tem bandas muito boas e bem produzidas - de todos os estilos - fazendo nome por aqui e aparecendo em outros estados do Brasil. Só isso já serve de combustível pra que tudo continue acontecendo, seguindo nesse caminho. Afinal, inspiração pra criar é o que não falta por aqui. Ruan, vocalista da Quiçaça, mora na zona rural de Arapiraca e é de lá que sai a maioria das letras da banda. “É esse tipo de coisa que forma poeticamente a banda. A gente vai observando os personagens da cidade, ouvindo o que eles têm a dizer. Muitas letras são baseadas na linguagem dos comerciantes que vão passando de carroça, de cavalo. Às vezes é um vocabulário que nem a gente consegue identificar, aí surge meio que um trabalho de pesquisa mesmo, de procurar entender de onde vêm as expressões, o que elas querem dizer.”, conta. Já Toño diz que “em Maceió, às vezes a gente vive muito na superfície, se acomoda naquela superficialidade, fala do que tá mais perto, do que tá sempre ali. Acho que a gente tem que aproveitar a riqueza e as diferenças da cidade e se permitir mergulhar”. E o sotaque, gente? “O nosso sotaque diz quem a gente é, de onde a gente vem. É o nosso natural. Não adianta forçar falar de um jeito diferente na hora de fazer música porque acaba ficando artificial”, fala Reuel. E é isso mesmo, né? Vale lembrar: nesse fim de semana o Toño toca com a Dof Lafá no Festival Mormaço, e a Quiçaça se apresenta no evento Um Pelo Outro #2. Não dá pra perder, né? *Agradecimentos especiais ao querido Duda Bertho pelas fotos desse dia cheio de sorrisos.
>17.05.17
A parceria da FARM com a Bento Store é um assunto que acelera o nosso coração. Tanto que fomos perguntar ao Carlos Ferreirinha, sócio da Bento, se do lado de lá a sensação é recíproca, e aproveitamos também pra conhecer um pouquinho mais da marca Ficou curiosx? Então olha só - Ferreirinha, a gente ficou muito feliz com a parceria, mas queremos saber de você: curtiu? Então, curtir é pouco. Na verdade a parceria com a FARM nos emocionou, aqueceu a alma, abriu sorrisos! Amamos! - E qual a importância que você vê nisso? É muito bacana quando marcas apertam as mãos, encontram caminhos juntos, acreditam na complementariedade... Todo mundo ganha e ainda mais o cliente, no final. É força de diferenciação e competitividade! - Conta um pouco pra gente de como surgiu a Bento! A Bento Store vem da inquietação de dois caras amigos que, juntos, se permitiram ter vontade de criarem um novo negócio, absolutamente inovador, em todos os sentidos. Estudamos oportunidades de forma geral por quase dois anos e nesse tempo "esbarramos" em produtos para "take away", as marmitinhas cool, modernas... Decidimos então focar nisso, desenhar um projeto arrebatador e, acima de tudo, surpreender com um conceito jamais visto. - Qual os maiores diferenciais da Bento pra outras marmitas convencionais? São muitos: modelos, cores, design, tecnologia. Tem modernidade tecnológica pra poderem ser colocadas no microondas, na lava-louças... Possuem também revestimento térmico, são sustentáveis e responsáveis com o meio ambiente, já que são BPA free. - Além de incentivar um estilo de vida mais saudável, a Bento tem toda uma preocupação com a causa ambiental também. Você pode contar um pouco mais disso pra gente? Essa é uma preocupação forte nossa. Os produtos não podem ou não deveriam ser apenas bonitos. Precisam ser responsáveis, gerar menos lixo, menos uso do papel e do plástico. Produtos que sejam livres de BPA, o bisfenol-A (prejudicial ao meio ambiente e a nossa própria saúde). - A gente quer saber: e você, no seu dia a dia, também é adepto das marmitas? Se não era, passei a ser! Já #soumarmiteiro ou melhor #vireimarmiteiro sim! :) - Fique a vontade pra contar o que mais quiser, tá? Uma coisa a mais... ter a FARM conosco foi a realização de um sonho! Admiração total pela marca! Inspiração! A gente não poderia ficar mais feliz com essa entrevista, né? Vida longa à Bento, vida longa à FARM!
>15.05.17
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